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10 agosto 2020

Desaprendi a andar de bicicleta

Por vezes a gente se perde. Não como quem está fazendo uma trilha e não presta atenção nas placas pelo caminho, então acaba parando em um lugar qualquer, mas com uma vista incrível. É mais como quando realizamos uma tarefa depois de muito tempo, e não temos mais certeza se é assim mesmo que se faz. No caso de uma receita de bolo, basta pegá-la novamente e as coisas voltam a se encaixar. Porém com a vida não funciona assim.

Algumas situações me parecem surreais. De um dia para o outro você perde as estribeiras e não faz ideia de para aonde está indo. O que fazia sentido de repente é uma completa loucura, enquanto o que não se encaixava mais se torna uma possibilidade acolhedora. O problema disso não é exatamente o que é, mas o que faz a gente sentir. É o aperto no peito, os olhos marejados e aquela sensação ruim de que você simplesmente se perdeu.

Me sinto culpada por causos que talvez eu nem tenha culpa, mas ainda assim me responsabilizo e imagino que tudo poderia ser diferente se eu mudasse aqui e ali. Quem sabe seja essa a questão, entende? 

Ultimamente tenho a percepção de que qualquer fagulha que me impulsiona para frente, em algum momento se apaga no meio do percurso. E aí que eu não sei como acender novamente. A opção mais viável é voltar à estaca zero, só que essa volta me desestabiliza de um jeito, que qualquer atitude que tomei até então deixa de fazer sentido.

É como quando a gente aceita uma tarefa mesmo sabendo que ela é complicada de realizar, mas tivesse coragem o suficiente para tentar. De uma hora para outra, entretanto, as instruções deixam de ser coerentes e as peças parecem erradas. No fim, você acaba se sentindo incapaz de finalizar porque... Não sei, sabe?

Acho que é isso. Não sei de nada, e quando acho que aprendi uma lição, a vida vem e mostra que não fiz mais que minha obrigação. E dói entender isso. Talvez tenha desaprendido a andar de bicicleta, e olha que dizem que isso nem é possível.

21 maio 2020

Mudei muitas vezes desde então

A gente muda. Constantemente. E isso é bom, sabe? Não ando reclamando não. A verdade é que a gente muda o tempo todo, a respeito de qualquer assunto. Sobre nós mesmos, inclusive. Mudamos porque tem que ser assim. Porque a vida é maleável, e nós também. Mudamos porque uma hora a zona de conforto se torna muito pequena para tudo aquilo que queremos ser. Mudamos porque "[...] quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então".
Faz mais de um ano que não escrevo por aqui. Faz mais de um ano que abri o blog e pensei "o que diabos ando fazendo?". Prometi que não voltaria até me sentir pronta. Até ter coragem novamente para abrir uma página em branco e escrever a vida. Até ter coragem de parar de escrever para os outros, e começar a escrever sobre mim.

No começo do ano voltei, mas voltei aos pouquinhos, como observadora, tentando descobrir o motivo de aqui não ser mais lar. Descobri, assim, que o porquê era bem óbvio: não escrevo mais para que alguém leia... Nunca fiz isso, para ser sincera. Escrevo porque tenho uma necessidade minha, muito particular, de colocar em palavras escritas aquilo que não consigo dizer. Veja bem... Sou uma jornalista, mas nunca soube lidar com as palavras faladas. Elas me dão arrepio.

E nisso de me perder, acabei me encontrando novamente. Talvez um pouco mais velha, um pouco menos estressada, um pouco mais preparada para ter coragem outra vez. E não me arrependo do hiato. Até gostaria que ele tivesse acontecido antes. Que ele tivesse me chamado para jogar conversa fora em uma mesa de bar, às três da tarde de um domingo.

Termino isto aqui com o significado de "insolitez", derivado da palavra "insólito". Trata-se de algo raro, incomum, que não se apresenta de maneira habitual. Algo extraordinário, do jeitinho que imagino que a escrita deva ser.

24 março 2019

Dos laços líquidos que criamos

Mano, que saudade! Saudade de tantas coisas e pessoas e hábitos e sensações que não reconheço mais. Saudade de ter tempo para o tempo e para o mundo. Saudade de encontrar conhecidos desconhecidos no meio da rua. Saudade de mandar uma mensagem recíproca exatamente sobre... Saudade. Mais do que nunca sinto que ninguém percebe a vida. As pessoas estão sempre correndo, atropelando as palavras, carregando pesos absurdos que não lhes dizem respeito. O pior é que eu sou uma dessas pessoas, que sai na rua olhando para baixo, não cumprimenta com "bom dia" e tampouco com um abraço. Me transformei em uma pessoa líquida.
Outro dia, depois de um encontro regado a chope com alguns colegas, me vi sentada dentro de um carro com um desconhecido que me levava para casa. Ele olhava para o céu um tanto em dúvida, até que me questionou um "será se chove hoje, moça?". Imaginei que o assunto acabaria ali, com meu "talvez", mas não... Ele me contou sobre seu dia e que estava ansioso para conhecer uma pessoa mais tarde. Perguntou se roupa social era muito para um primeiro encontro e se eu tinha alguma dica "de amiga, sabe como é, né?" para ele não pisar na bola. Compartilhou comigo o lugar que iria e a banda que tocaria por lá. 

Descobri que o rapaz estudava Arquitetura na Federal e que se formaria dali alguns meses. Ele estava empolgado com o curso, mas, assim como qualquer um que esteja prestes a se formar, também sabia dos percalços que precisaria enfrentar para encontrar um emprego bacana na área. Porém, em seus plenos 25 anos, já tinha um plano B caso suas escolhas dessem errado. Quem sabe tentaria um concurso público ou seguiria os passos da mãe, uma Advogada que "sabe extremamente o que quer", como ele mesmo me disse. Não queria precisar fazer outra faculdade, afinal, todo mundo que faz uma sabe que é "só um diploma pendurado na parede".

Em meia hora de percurso conheci seu gosto musical com tendência para o rock, soube da sua preferência por um sábado jogando futebol com os amigos e até a marca da cerveja favorita. O cara abriu o coração com uma facilidade tão grande que quase me senti em casa, torcendo pelas conquistas que provavelmente ele vivenciaria pelos próximos dias, meses ou anos, talvez. Mas, também, me dei conta de que há meses não havia tido uma conversa parecida com ninguém. Há meses meu convívio social se baseia em um "hey, tudo bem por aí?". Para falar bem a verdade, eu não conheço as pessoas com quem me relaciono atualmente. Não sei sobre as preferências, se gostam de comédia ou terror. Não sei se preferem doce ou salgado e se gostam de frio ou calor. 

Me transformei em uma pessoa líquida, assim como todo mundo.

15 outubro 2018

Sobre a vida e autoconhecimento

Voltei. Não completamente, mas sinto que estou de volta. Sou eu novamente, com sonhos, desejos, esperanças. Nesses meses que se passaram, uma única coisa me incomodava ao ponto de não conseguir fazer todas as outras: falta de autoconhecimento. Sabe quando você para, olha para si mesmo e não consegue se enxergar? É como se você tivesse se perdido em algum momento e estivesse nadando contra a maré. A parte boa é que, de vez em quando, cair na real é uma dádiva. É o instante em que você sabe que precisa fazer alguma coisa, seja lá o que for, para continuar caminhando nessa loucura que chamamos de vida.
Finalmente terminei a faculdade de Jornalismo. Agora, depois de uns meses parada, mesmo chorando todas as pitangas do pé para terminar o curso e ter aquele gostinho de dizer que acabou, cá estou pensando em outra faculdade (oi, Design!). O Jornalismo me agregou muitas coisas, mas não foi meu tchan, sabe? Eu amo escrever, mas amo escrever sobre a vida, sobre as pessoas, sobre o dia a dia, sobre aqueles detalhes bobos que ninguém nunca repara. Eu amo escrever clichês. Amo escrever sem regras, sem precisar seguir um roteiro ou inventar um título que combine com o lead e que este não repita todo o resto do texto. Aprendi sobre a vida com o jornal. Aprendi a perceber as outras pessoas, não só com os olhos, mas com a alma. A entender o que elas sentem, porque sentem e como sentem. No entanto, meu coração diz que não é isso.

Uma decisão para daqui um tempinho.

Assim como tantas outras que preciso tomar, como tirar carteira de motorista, fazer meu passaporte, aprender a usar o coletor menstrual, ler todos os livros parados da estante, fazer um cursinho de aquarela, fazer um cursinho de lettering, procurar um novo emprego, aprender a diferença entre "essa" e "esta", terminar meu conto... Não tudo necessariamente nesta ordem. Tem muitas outras coisas que poderia listar, mas, por hora, já está de bom tamanho. Sabe que quando a gente começa a traçar pequenas metas para serem realizadas em um curto espaço de tempo as coisas se tornam mais levinhas? Parece que tudo se encaixa, e por mais que sejam metas bobas, aquecem o coração.

Só que essas pequenas conquistas só são possíveis quando você começa a se olhar com mais empatia, mais carinho, mais cuidado. Sabia que podemos resolver a maioria dos problemas quando estamos resolvidos com a gente mesmo? Isto é muito conselho de palestrante de autoajuda, mas é real. Acabei aprendendo na marra que, quando conhecemos nossos gostos e desejos, é mais fácil dizer "sim" para novos caminhos. Afinal, dizem que quando a gente confia no universo, ele devolve confiança também.

Espero que seja assim sempre.

Enfim. Era isto. Só queria dar o ar da graça e vos escrever que tudo anda melhor. Ainda vou encher muito a cabeça de vocês com textos clichês. Desculpem por isso também.

04 maio 2018

É estranho ter vinte e poucos anos

Quando eu era mais nova, chegar aos 18 anos era uma realidade distante. Acho que todo mundo passa por essa fase, não é? A gente acha que nunca vai ter independência, liberdade, coragem para ser dono do próprio nariz e das escolhas que faz. Mas aí, quando a hora chega, nos damos conta de que não é nada disso. Ter 18 não significa nada. Você continua morando com os pais, ainda precisa deles até conseguir um emprego estável, ainda pede permissão para fazer o que quer e, provavelmente, vai correr para o colo mais próximo quando a vida resolver pregar uma peça. A única coisa que se transforma são os números. Digo isso porque a expectativa x realidade é muito diferente do que imaginamos. Olha só para mim, estou com 20 e poucos anos e só agora resolvi que era hora de sair da zona de conforto.
A verdade é que demora até conquistarmos o mínimo que seja de confiança para ser cada um por si. Demora até concluirmos o que realmente queremos da vida ou o que ela quer da gente. Quando essa conclusão chegar, talvez você já tenha 40 anos. Ou, quem sabe, você viva sua vida inteira sem saber a resposta para isso. Vai saber, né? O fato é que todo mundo cobra, mas, quando realmente chega o momento de fazer as coisas acontecerem, não existe uma única pessoa que não recue. Isso porque, como bem diz Bauman, vivemos tempos líquidos em que tudo muda, o tempo todo.

Aos 15 anos, pensava que com 21 estaria formada, com 24 estaria casada, com 27 publicaria meu primeiro livro, e, quem sabe, com 30 teria um filho. Bom, fiz 22 e ainda não me formei, não sei mais se quero casar e pretendo publicar um livro ano que vem. Complexo? Não, porque nossas prioridades mudam. Sempre. Talvez meus planos mudem até o final do dia. Talvez aconteça alguma coisa nesse meio tempo que me faça repensar sobre meus objetivos. No fim, a pressão da idade é maior do que o fluxo da vida.

E que clichê falar disso, não é?

É que fiquei pensando: é muito estranho ter vinte e poucos anos, assim, por extenso mesmo. É estranho porque não me sinto mais velha, ainda que as responsabilidades tenham dobrado de tamanho. É estranho porque ainda acordo cedo e vejo desenho animado. É estranho porque, quando tinha 18, queria fazer 30; agora que tenho 20, só quero voltar a ter 15. Não porque não me orgulho do que conquistei até aqui, mas porque tem dias que minha única vontade é de sentar e colocar a cabeça no lugar, só que a vida não para e os dias se atropelam.

É estranho porque as pessoas esperam muito de alguém que faz 18, assim como esperam mais ainda daqueles que fazem 30. Estar no meio disso é não esperar nada. É ser surpreendido o tempo inteiro. É ter uma infinidade de possibilidades e não fazer ideia de para onde correr. É se perder e se encontrar na esquina de casa.

02 abril 2018

Perdi o jeito ou algo mais

As bolinhas de papel ao redor da minha mesa me dizem que não tenho mais a habilidade de colocar em palavras aquilo que o coração sente. Mas é o turbilhão de pensamentos que me fazem tentar novamente. E de novo. E de novo. E de novo... até finalmente conseguir tirar da confusão um rascunho sensato que me diga algo. Não que eu não saiba o que estou fazendo, mas ver as palavras no papel me ajudam — ao menos em partes — a organizar as sensações internas. Só que sempre tem algo a mais. Minha mente não para nem por um segundo. E isso me faz perder o foco. Me faz perder a vontade de tentar colocar em ordem o que se mantém uma bagunça.
Para ser sincera, acho que não é somente isso. Talvez tenha a ver com as pessoas, com minhas escolhas, com a vida em si. Talvez não seja o momento de organizar nada. Talvez seja um daqueles momentos em que a gente tira tudo de dentro do guarda roupa e vê o que ainda se encaixa, o que ainda pode continuar ou o que precisa, urgentemente, ser jogado fora. E se quer saber, acho que é a parte mais complicada.

Então eu levanto, pego um café forte e torço para não perder a cabeça.

Tenho feito muito disso ultimamente. Perder a cabeça, digo. Não pela falta de coerência, mas porque a vida não para. Ao final do dia, nunca tenho nada de bom para falar. Foram tantas cenas em sequência que sequer me lembro com detalhes de alguma em específico. E assim elas se tornam uma bola de neve que me engole e me cobre de preocupações. E é por isso que cá estou novamente em frente a uma pilha de papéis amassados.

Porque escrever me desafoga.

Talvez assim eu me encontre. Talvez assim seja mais fácil não perder as coisas ou os sentidos ou as pessoas. Talvez escrevendo eu continue descobrindo novas possibilidades, novos sonhos, novas formas de organizar esse armário de lembranças que chamo de vida.

Quem sabe assim tudo se encaixe novamente.

01 fevereiro 2018

Ação e reação que chama, não é?

Li um comentário dias atrás sobre aquela velha história de que temos exatamente o que cativamos. Isso pode incluir teorias, energias, comportamento, atitudes e inúmeros outros fatores que talvez não caberiam ser explicados aqui. Lembra de "O Pequeno Príncipe"? Pois é! Semana passada, por exemplo, em meio a uma chuva de cobranças no trabalho e uma dor de cabeça insuportável, minha vontade era de jogar tudo para o alto e ir embora. O resultado? Tudo deu errado. E quando digo tudo, quero dizer que absolutamente tudo foi por água abaixo. Foi como se eu tivesse comido um morango embolorado que já estava estragado há semanas e estivesse vendo tudo meio fora de contexto. 
Se eu gostei disso? Obviamente que não, mas, às vezes, a gente precisa se dar ao luxo de surtar um pouco. O problema, meu bem, é que tudo volta em algum momento. Aquela picuinha que você resolveu contar em um churrasco com os amigos vai te dar o troco um dia. E aquela coisa horrível que você desejou para o coleguinha vai acabar acontecendo com você, queira ou não que isso seja verdade. E sabe o por quê? Porque o universo gosta de pregar essas peças insanas com a gente.

Porque a energia que a gente transmite para o outro é a mesma que nos rodeia.

Lembro de ter escutado um conselho quando era mais nova sobre nunca fazer aquilo que não quero que façam comigo. É claro que eu não prestei atenção na época. E é claro que também não coloquei em prática. Mas, veja bem, isso não significa que a gente não possa aprender com os nossos erros, não é? 

Hoje em dia já até criei uma tática pessoal para saber exatamente quem vale a pena, mas, ainda assim, tenho o costume bobo de querer confiar em gente que não vale a Coca-Cola que toma. E sabe de outra coisa? Eu não me importo mais. Simplesmente deixo que o universo faça o seu trabalho. Se eu desejar tudo de ruim que houver no mundo, provavelmente essas coisas vão surgiu no meu caminho, certo? Então faço o contrário: desejo tudo de incrível que a vida proporciona, porque não tem nada mais impactante do que ver uma pessoa feliz num mundo de desgraças.

Quando aquele indivíduo te fizer cara feia, abre um sorriso e segue o baile. Se der certo, ótimo... mas, se não der, ao menos você continuará com sua leveza. Tenta julgar menos, reclamar menos, criticar menos, ter menos dias de mau-humor.

Meu bem, a gratidão só te traz coisas boas. Não custa nada tentar!

16 janeiro 2018

O amor não é isso que sabemos sobre ele

Lembro que, quando era mais nova, acreditava que o amor — aquele que eu encontrava nos livros que lia e nos filmes que assistia — poderia ser facilmente encontrado na esquina de casa. Hoje, confesso, ainda penso muito no assunto. Seria tão mais fácil esbarrar com alguém e ver as coisas acontecerem de repente, como em um passe de mágica, sem precisar de todo o resto. Mas não funciona dessa forma. É preciso uma lista repleta de passo a passos para chegarmos ao finalmente. Ao famigerado felizes para sempre. Só que o amor não é isso. Não é um final feliz, um frenesi do momento. Vai além do que, de fato, conseguimos denominar.
A gente tem o costume de confundir paixão com amor. Carinho com amor. Simpatia com amor. Respeito com amor. Um coração acelerado e aquela vontade louca de falar com o outro e já chamamos isso de amor. Não! Não é isso! Isso é só o começo de uma avalanche de sentimentos que ainda surgirão antes do nosso coração entregar os pontos. Ele é mais resistente do que um flerte e algumas conversas interessantes. É mais resistente do que um sexo casual e alguns beijos sem preocupação. O amor é aquilo que fica depois de todo esse processo.

É o que fica quando você não sente mais o frio na barriga.

Aliás, o amor também não é isso que chamamos de "alma gêmea". Esquece isso! Esquece a "tampa da penela", a "casca da laranja" e todas essas denominações estranhas. Ninguém é incompleto a ponto de precisar de outra pessoa para se sentir preenchido. Cada pessoa tem seu próprio livro em branco. Somos pessoas completas que se perdem de vez em quando. E se você quer encontrar alguém para transbordar tudo o que carrega consigo, tudo bem, mas, do contrário, aprenda a gostar da sua própria companhia primeiro.

Ninguém tem a obrigação de preencher um vazio do outro.

Isso é outra história, talvez mais complicada do que o amor em si.

Mas aí me perguntam: "então, o que é o amor?", e eu digo que não sei. Não tenho certeza se alguém sabe, de fato, o que é. A gente constrói teorias, liga uma coisa com a outra e tá tudo certo. Acho que cada um acredita naquilo que lhe convém. Talvez seja por isso que o sentimento esteja tão banalizado, tão desacreditado.

Pode ser, não pode?

O amor, pra mim, é quando você deixa de lado todos os seus julgamentos e aprende a enxergar o outro exatamente como ele é. E gosta do que vê. Gosta dos defeitos, dos trejeitos. É quando tem aquela ligação física e mental absurda que você não sabe como aconteceu, mas, ainda assim, se encanta por isso e sabe que vai além do que ambos demonstram. É quando o outro te mostra o lado ruim e mesmo com isso você o admira, afinal, ninguém pode ser definido por seus momentos errados. E, infelizmente, fazemos isso com todo mundo, não é?

O amor não é isso que sabemos sobre ele. Na verdade, nem sei se sabemos algo.

28 novembro 2017

Enquanto é tempo

Outro dia vi um programa em que duas pessoas se encontram em uma simulação do tempo, como se olhassem para o futuro, mesmo sabendo o quão incerto ele pode ser. Não que eu não quisesse saber como poderia ser a minha vida daqui alguns anos, mas parece um tanto mórbido pensar sobre o assunto. Se observarmos a reação dos que participam dessa simulação, pode-se ver que a maioria  se não todos — estampa uma expressão de choque. É como se caíssem na realidade e só naquele momento se dessem conta de que o tempo passa... e, com ele, a vida.
Sei que nem sempre estamos dispostos a deixar de lado o conforto do que é certo, mas grande parte das pessoas infelizes continuam vivendo no automático porque não querem arriscar. Eu, por exemplo, quando decidi pedir demissão do meu atual emprego, ouvi todo tipo de pergunta, desde "mas você já tem algo em vista, não é?" até "você vai se dar mal, não se troca o certo pelo duvidoso". Tá, mas e aí? E a minha felicidade? E a vontade de tentar novas coisas, novas experiências, novos caminhos?

Não posso simplesmente me contentar com o que tenho porque está bom assim. Porque está quieto.  Ninguém deveria. Se sei que tenho capacidade de ir além, não tenho motivo para ficar no mesmo lugar, travada e indiferente com a vida que estou levando.

A mesma coisa acontece com as pessoas que gostamos. Passamos mais tempo criticando, reclamando, julgando, brigando e o caramba a quatro do que elogiando, dando uma força, um conselho, pedindo um carinho. 

Meu bem, você já deu um abraço apertado em alguém hoje? Já riu até a barriga doer e os olhos se fecharem? Já sentiu aquela leveza de ter uma conversa gostosa com uma pessoa que não fala há anos? A gente nunca sabe o que vai acontecer no outro dia. 

Não temos tanto tempo quanto imaginamos ter.

Não temos nada.

Ficamos adiando, guardando, esperando pela hora certa... mas ela não existe. Esta bendita hora exata nunca vai fazer parte da sua vida, nem de ninguém. A gente só precisa ter coragem para encarar o novo, além de torcer para que os astros lá de cima encontrem surpresas positivas que irão mudar nossa concepção de mundo. 

Moreno, vai ser feliz enquanto é tempo. Tira da cabeça que "a vida é assim mesmo", porque cada pessoa faz suas próprias escolhas. Se eu estou vivendo algo bom, é porque fiz de tudo para colher esses momentos. Mas se tá tudo revirado, talvez seja hora de sentar e reparar a bagunça.

07 novembro 2017

Recomece sempre que precisar

Quando era pequena, descobri nos livros infantis que a gente precisa fazer de tudo pelos nossos sonhos. Sempre levei isso como um mantra, o qual repetia incansavelmente enquanto crescia. Se a vida cooperava, lá estava eu, com um sorriso de ponta a ponta; caso contrário, me via em um beco sem saída. Talvez em meio a pensamentos, ou, quem sabe, no meio do caminho. A verdade é que ninguém nos fala que não há problema em algo dar errado. A vida têm momentos únicos que nem sempre condizem com nossas expectativas, mas isso não significa que estamos fazendo tudo o que deveríamos não fazer. Significa que não deu certo. Só. Não tinha que dar. Tá tudo bem abrir mão de vez em quando... mas não da gente, não do que somos.
Eu gosto do desafio, mas tem coisas que simplesmente não funcionam comigo. Indivíduos que não batem com minha energia, atitudes que não fazem jus ao que acredito, horas que mais parecem dias — não pelo fato de passarem devagar ou pela falta do que fazer, mas, sim, porque a companhia não flui, a conversa não se desenvolve, as risadas não são naturais. Eu preciso ter a certeza de que aquilo está certo. De que faz algum sentido. 

Quando não funciona, a gente finge que tá tudo bem. Não é assim?

Porque temos medo do incerto. Temos pavor de sair da zona de conforto e tentar novamente. Entrar em campos inexplorados. É por isso que tem tanta gente no emprego errado, no lugar errado, com a pessoa errada, em conversas ainda mais insanas. Eu, inclusive, faço parte desse grupo, mas juro que tô tentando mudar.

Se não gosto de onde trabalho, se sei que posso ir além, por que não tento? Por que ainda tô aqui parada, lidando com pessoas com as quais não simpatizo? Talvez eu tenha inúmeras respostas para estas perguntas, mas o problema é que sempre arranjamos uma desculpa. Se formos analisar, passamos mais tempo com pessoas, situações e lugares dos quais não gostamos pelo simples fato de que é mais fácil assim. Não dá trabalho. Não gera revolta. Não custa uma noite com pessoas estranhas. Não precisamos encarar o novo para encontrar tudo aquilo que já temos, ainda que o que temos não seja necessariamente algo de que temos afeto. 

Só que não há nada de errado em desistirmos de coisas que não nos agregam.

Se o relacionamento tá ruim, é porque tá ruim. Poxa! É porque não tem que dar certo. É porque vocês não se entendem como deveriam se entender. É porque, no fundo, é só amizade. Porém insistimos e levamos a coisa em banho maria. Ainda que descontentes, é o que temos. Mas será que o que temos é suficiente para o que, de fato, sonhamos?

Se a resposta para essa pergunta for "não", é melhor tentar novamente. Fecha os olhos, conta até dez e pontua mentalmente todos os momentos únicos da vida. Talvez os sonhos precisem de algumas mudanças, assim como inúmeros outros surgirão com o tempo, mas a gente nunca sabe o que vai acontecer no outro dia. Eu não sei você, mas quando meu último dia bom chegar, a única certeza de que quero ter é que fiz tudo que pude para ser feliz. E se for preciso desistir de algumas coisas ao longo do percurso, tudo bem. A vida tem dessas.

Espero perder o medo de recomeçar, inclusive.

28 setembro 2017

Ainda estou me adaptando

Já se passaram alguns anos. Ainda me lembro de quando era pequena e me agarrava nas pernas da minha mãe, com medo das outras pessoas, do que elas poderiam fazer, do que elas se tornariam quando eu me distraísse por um momento. Não brincava com as outras crianças, não gostava delas. Não saia sem meu bichinho de pelúcia surrado, ele me protegia. Não confiava em ninguém além dos que conviviam comigo, e, ainda assim, me sentia traída quando minha comida era feita de verduras camufladas. Tinha medo do mundo lá fora e fazia questão de criar o meu próprio. Me perdia em meio aos brinquedos, inventava histórias que ninguém nunca vai imaginar. 
Não mudei muito. Ainda tenho receio de sair sozinha sem ter alguém com quem me apegar. Ainda tenho medo das pessoas — e do que elas fazem umas com as outras. Não sou de muitos amigos, mas confio nos poucos que tenho. Ainda carrego um bichinho na bolsa, ele não é grande como o que tinha, mas me protege da mesma forma. Ainda me sinto traída quando trocam o recheio da minha comida preferida por um mistura de coisas verdes. Meu mundo imaginário anda sempre ao meu redor. Quanto as minhas histórias, ninguém nunca vai saber de tudo.

Não quero que saibam.

É estranho como não consigo me adaptar. Sempre que digo isso, me sinto como uma peça errada no jogo da vida. Como se não fosse parte da embalagem original e todos descartassem por ser repetida. Talvez eu esteja errada, só não encontrei meu cantinho ainda.

Ou talvez seja para ser assim mesmo, deslocada.

Para ser sincera, sempre gostei dessa solidão.
 
Não me sinto um problema — e sei não sou um, apesar de sempre me falarem o contrário —, apenas não aceito qualquer coisa, não faço questão de engolir aquilo que me desagrada, não tenho paciência com atitudes sem nexo e, muitas vezes, meu jeito fechado fala mais alto do que a simpatia. Aliás, é difícil assimilar algumas exigências, principalmente quando te dizem para ser você mesmo, mas o mundo implora para que você seja como ele quer. Moldada previamente, com direito a degustação.

Mas, sei lá!

A verdade é que eu não mudei muito. Meu doce favorito ainda é algodão-doce, e faço questão de comprar um quando vejo o moço da praça vendendo. É como se fosse uma segunda via de proteção. Ele me traz segurança, e isso pode ser engraçado para quem lê, mas é reconfortante para quem sente.

19 setembro 2017

Quem sabe alguém fica, um dia

Eu costumo comparar minha vida a uma estação de trem, uma rodoviária, talvez. Um aeroporto. Há desembarque e embarque o tempo inteiro, com pessoas correndo com pressa para não perderem o próximo voo. Há bagagens perdidas e reclamações na central de atendimento. Tem gente que vem com duas malas carregadas, fica por um tempo, faz morada, depois desaparece. Nunca entendi porque fazemos essa comparação, mas um dia alguém me disse com convicção que jamais estaremos preparados para alguém que fique. Talvez isso seja verdade, ou não, ainda quero poder descobrir um dia. Ainda quero poder chegar de mansinho em alguém e lhe perguntar qual é o próximo destino, e torcer para que me responda que não sabe. Que não faz ideia. Que gostaria de ficar.
Sempre que alguém chega apressado, me sinto um pouco dona da verdade e vou direto ao ponto. Não gosto de correrias na minha estação, prefiro a calmaria, a leveza de se ter a certeza para que direção seguir. Parece estranho, e doí, machuca de forma inconfundível, mas entendo aqueles que preferem ir embora. É uma conspiração de sentimentos, comportamentos, têm palavras espalhadas por todos os lados, cartazes com dizeres "eu não sou uma estação de verdade, sabe disso?". Não sabem. Nunca souberam. Tirando aquelas pessoas com as quais nunca aprendi a lidar, sou a mais complicada de que tenho conhecimento. Uma contradição ambulante. Vivo com uma coisa na cabeça e no final não digo nada a respeito. Amoleço quando deveria ser de ferro. Esboço um sorriso contagiante quando as lágrimas tomam conta.

Têm dias que por mais confiante que seja, me sinto inútil, como se colocasse uma capa da invisibilidade e não fizesse diferença alguma não estar presente. Têm dias que a grosseria toma conta, mas é só um pedido de colo, de carinho. Têm dias que o mau humor prevalece, mas uma simples brincadeira boba pode ser fatal. Têm dias que não quero absolutamente ninguém por perto. Mas, acima de tudo, têm dias que só quero ser eu, brincar com a minha ironia, dançar as músicas bobas que tocam no rádio, assistir um filme que já gravei todas as falas, deixar de lado a armadura. Só que é difícil encontrar alguém que saiba me decifrar. Que tenha paciência para me ter por perto.

Confesso que já perdi o vidro à prova de balas que tinha ao redor, me atinjo por qualquer coisa, qualquer palavra mais dura. Tem gente que me encontra na rua de vez em quando, que não me vê há um bom tempo, mas faz questão de deixar claro que continuo a mesma.

Não!

Eu sou mutável, constantemente. Eu perdi as garras, perdi a razão, quero tanto que fique tudo bem com todo mundo, que simplesmente desisti de estar certa em alguma coisa. "Entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil", e é isso que tenho tentado fazer. Nem sempre consigo botar em prática, tem vezes que perco o controle, mas volto atrás. Sempre. Se tem uma coisa que aprendi nesses vinte anos, é que amanhã pode ser tarde de mais.

Então, quem sabe alguém fique, um dia. Talvez alguém entenda meus motivos e não me peça explicações para aquilo que não sei responder. Talvez alguém me abrace apertado e diga "Olha, eu sei que é difícil essa coisa de amar, mas eu tô aqui, também não sei nada sobre isso", porque, de fato, ninguém realmente sabe.

22 agosto 2017

Sobre a vida adulta e mousse de maracujá

Reparou que o blog anda um tanto quanto paradinho nas últimas semanas? Também faz quase um mês que não consigo atualizar minhas próprias redes sociais, principalmente o Instagram, lugar onde em constantemente dava sinal de vida, mesmo que a realidade estivesse um caos. A academia foi por água abaixo há duas semanas, quando percebi que precisava deixar alguma coisa de lado. Os livros das editoras também estão acumulando, mas ontem mesmo fiz uma planilha (aprendi a amar essa coisa!) com todos os títulos que preciso ler e resenhar até o final do ano. Quanto ao meu emprego, para ser sincera, só tenho pensamentos ruins ultimamente, então talvez seja melhor nem mencioná-lo. Mas há um ladinho positivo nisso tudo: aprendi a fazer mousse de maracujá.
Eu definitivamente comecei esse semestre com o pé esquerdo. Faz semanas que minha saúde mandou um beijo e resolveu tirar férias, juntamente com meu bom humor, que deu lugar à vontade incessável de jogar tudo para cima e dormir pelo resto do ano. É claro que a vida não permite esse tipo de atitude, então ando tentando levar como posso, torcendo para ter sanidade mental suficiente.

Na faculdade, por exemplo, meu plano de fazer a monografia separada das outras disciplinas no semestre que vem se tornou uma doce ilusão, já que precisei organizar minha grade conforme as matérias disponibilizadas. Sendo assim, cá estou eu tentando achar um tema bacana para escrever, rezando para que a primeira entrega esteja certa e que a minha orientadora me dê uma luz. Já procurei referências e até tenho algumas ideias em mente, mas tenho ficado bem ansiosa com os prazos e não sei se vou conseguir dar conta de todos os tópicos.

Com a preocupação e o tempo escasso, minha imunidade resolveu que era o momento certo de me informar que eu estava passando dos limites. Já estou indo para a quinta caixa de antibiótico e não vejo melhora alguma. Como vou resolver isso? Não faço ideia, mas é justamente por esse motivo que me afastei um pouco das redes sociais e até aqui do blog. Como sei que preciso me cuidar ao máximo para não piorar o quadro, tenho me isolado quando os dias permitem para não enlouquecer por completo.

Aliás, o clima na empresa em que trabalho anda de mal a pior. Há dias que venho para casa com a sensação de estar fazendo a coisa errada, com as pessoas erradas, em um serviço que não explora em nada o meu potencial. Muita coisa mudou desde que fui contratada. Aquela imagem bonita que eu tinha da empresa em si e das pessoas que lá trabalham foram se transformando entre reuniões e atrasos de entrega. Hoje, só consigo enxergar indivíduos automáticos que passam um por cima dos outros.

Mas sabe de uma coisa? Sempre fui o tipo de pessoa que gosta de enxergar aquela luz no fim do túnel, e vivo fazendo isso toda vez que algo dá errado. Na minha situação atual, por exemplo, enquanto fiquei de molho em casa procurando coisas para fazer, meu irmão me apareceu com uma receita diferente de como fazer um mousse de maracujá cremoso. Eu estava mesmo falando sério sobre o mousse. Há anos tento entender como fazer essa sobremesa sem deixar ela muito ácida ou muito dura por conta da gelatina. E não é que a bendita receita deu certo? Meu mousse ficou lindo. 

Talvez eu procure uma receita de caipirinha para aproveitar os azedos da vida.

27 julho 2017

Ela é de Touro

Ela vê graça nas miudezas da vida, na simplicidade de uma conversada jogada fora em meio a rotina estressante, na troca de olhares ternos de pessoas que se cumprimentam na rua e que nem mesmo se conhecem, nas mensagens inesperadas que colorem a vida, nos bilhetinhos que aparecem como mágica em cima da mesa e que resultam em um sorriso de ponta a ponta. Ela é solta, dessas que ri por bobagem e fica com os olhos cheios de felicidade depois de ouvir a pior piada do mundo. Ela é dada, dessas que se aconchega em qualquer abraço apertado que aproxima corações cansados, porque, cá entre nós, não tem nada melhor do que um carinho.
Ela é séria, porque a vida não é feita somente de sonhos, mas a formalidade pouco aparece. Ela sabe ser de mil e um jeitos, afinal, o que podemos esperar de um indivíduo que usa pantufas bonitinhas pela casa e, dez minutos depois, está de terninho andando pela rua? Ela se molda e se transforma, sempre com um pé atrás e o outro dois passos em frente. Ela é de Lua, sempre contraditória e com a cabeça mais complicada do que se pode imaginar, mas não tem segredo, basta algum tempo para decifrá-la.

Ela é teimosa que só. Bate o pé sempre que distorcem seus ideais e não desmancha a carranca até que digam o contrário. Ela é de personalidade forte e possui tantas opiniões formadas que raramente encontra alguém capaz de rebatê-la, mas ela é mutável, lembra? Sabe o momento certo de arredar os móveis do lugar e fazer uma faxina, limpando todo e qualquer pré-conceito que não se encaixa mais. Ela escuta mais do que fala, talvez seja justamente por isso que se acha com razão.  
Ela é maleável. 

Ela não sabe dizer "não". Se doa ao máximo, quase sempre sem esperar nada em troca, porque é da sua essência querer ver os outros felizes. Se quer saber, ela deixaria qualquer coisa jogada ao vento se for preciso acolher um amigo. Ela mantém o coração, a mente e os braços sempre abertos, prontos para receber o que quer que seja, apesar de esperar o melhor de quase tudo.

Só não se engane com os olhos caídos e a cara de poucos amigos, é que ela tem essa mania chata de ir pé por pé, torcendo para não pisar em um poço sem volta. Ela não confia nos outros e raramente coloca sentimentos ao vento. Talvez seja por conta disso que seus relacionamentos não duram. Ela é cabeça dura e não abre o jogo logo de cara. 
Mas, veja bem, ela quer justamente ver o contrário. Quer pessoas que lutem por ela. 

São tempos difíceis para os sonhadores, não é?
Ela é do tipo que mantém os pensamentos sempre na velocidade máxima. Sabe aquela cena dificílima de assimilar em uma história de romance de época? Pois ela decifra detalhe por detalhe e não deixa passar despercebido um fio de cabelo branco. Sua criatividade não tem limites e os dotes artísticos também não. Sempre se deu bem com papel e caneta em mãos, afinal, sua mente guarda tantas histórias quanto uma biblioteca pública de dois andares.

Só que ela também é perfeccionista, e isso estraga todo o seu trabalho. Ela gosta das coisas arrumadas e nada fora do lugar. Gosta de rotina e de rituais. Ela não pode ver um quadro torto que vai ficar encarando-o por um bom tempo, até se irritar, levantar como se não fosse nada e arrumar com perfeição.

Ah, ela tem dessas!

Ela é uma bagunça.

Ela é de Touro, signo de terra regido por Vênus. Ela é filha do amor, mesmo que não compreenda metade do que possa significar essa palavra, porque, para ela, uma coisa tão incompreendida quanto deve ter um valor inimaginável. E ainda que não seja bem assim, ela cria sua própria crença e torce para que o mundo ao redor também pense dessa forma.

Ela é a pessoa mais desequilibrada que conheço.

Ela é só ela.

29 junho 2017

Perdoe o sentimentalismo barato

É que não é bem assim que funciona, moreno. Ela ainda não sabe ter equilíbrio entre a razão e o coração. Sua vontade mesmo é de gritar para o mundo que tá tudo errado, mas fica ali quietinha, observando de longe os passos que você preferiu dar sem tê-la por perto. Sua cabeça permanece longe, exatamente como nos dias anteriores. Alguns até se arriscam em dizer que ela se perdeu no mundo da lua. Quem dera! É que existem certas coisas que não se pode simplesmente deixar de lado e fingir que está tudo bem. Às vezes dói demais para forjar um sorrisinho torto. Não dá certo. Talvez ela se desculpe pelos olhos marejados, ou pelas palavras que não conseguiu proferir, mas tanto eu quanto você sabemos da verdade.
Num momento mais nada importa. Os sentimentos que ficaram acumulados na gaveta da cômoda, os planos nas noites de insônia retratados em olheiras mais fundas, as palavras jogadas ao vento, as mensagens trocadas em meio a saudade, a falta de tempo, ou de vontade. Bate um vazio enorme no peito. É que essas fotos não se encaixam. Elas não conseguem preencher a falta que faz. Talvez alguém devesse avisá-la que é assim mesmo. Eu até diria que não passa de um orgulho bobo, mas sei bem que é muito mais do que isso. É medo, receio. Não é uma simples melancolia.

É que ela sente demais e talvez eu a culpe por ser assim. A culpa é totalmente dela. Não há nenhuma outra pessoa responsável por isso. Só que depois de um tempo você aprende, moreno. Aprende que ela prefere um pouco da solidão quando a alma não vai muito bem. Aprende que sua grosseria é só uma máscara para a lágrima boba que insiste em cair. Aprende que, mesmo de longe, ela sempre vai pensar mais em você do que em si própria.

É que o coração anda transbordando de saudade.

Ela não vai falar sobre isso, você sabe. Ela não tem coragem. Não consegue encontrar as palavras necessárias. E se, por um acaso, um dia encontrar, talvez se arrisque em escrevê-las. Talvez coloque num papel aquilo que a sufoca por dentro. Não que isso ajude, mas sempre se transforma em uma forma bonita de aconchego. Só que o semblante um pouco triste, que aparece de vez em quando nas dobrinhas da testa, me preocupa. Sei que há muito mais do que aparenta e muito mais do que ela deixa perceber. Um dia vai ficar tudo bem, todo mundo conhece essa teoria, mas hoje, a olhando sentada na beirada da janela, percebo que talvez não seja o suficiente.

Nunca é.

01 junho 2017

Para onde vai o amor?

Veja bem, moreno, o amor não vai para lugar algum. Quando é amor mesmo, quando é puro sentimento, quando as pernas tremem, as mãos soam, o coração acelera e as palavras falham, ele não vai embora. Há quem diga que essa teoria não existe, afinal, um dia você vai se permitir amar outras pessoas, mas se conseguir parar por um segundo para pensar no assunto, perceberá que há inúmeras formas de amor, e cada uma delas se encaixa com uma única pessoa. Você não consegue amar duas vezes da mesma forma, sabia disso? Infelizmente a gente só descobre depois de já estar com milhares de borboletas no estômago. Mesmo quando tudo conspira contra, o amor dá um jeitinho de ficar ali. De ser lembrado. E é eterno.
Você pode me chamar de antiquada, moreno, mas nós dois sabemos disso. Nós sabemos cada detalhe que nos foi permitido. Nós sabemos que quando se gosta de alguém tanto assim, os dias são mais coloridos, os doces são mais açucarados, as palavras ficam mais leves, os carinhos se tornam constantes, as pupilas dilatam e nada no mundo pode destruir essa felicidade. Nos tornamos mais fortes, mais capazes. Viramos super-heróis se for necessário. Pegamos a dor da outra pessoa e colocamos no nosso bolso, só para conseguir ver um sorriso. Damos bom dia ao porteiro carrancudo, ao chefe mal-humorado e até para aquela tia chata que vive reclamando da vida. Nos tornamos verdadeiros. Humanos.

Mas o amor, meu bem, ele não é assim tão fácil quanto parece. Há dias em que ele resolve tirar férias e nós temos que suportar por um tempo, mas é como diz a música, sem amor, nada seríamos. Há momentos, também, em que ele gera ódio, rancor e insônia, mas quer saber de um segredo? Isso só acontece com quem não se permite amar. Vai por mim, quando você se fecha, a dor de cabeça é infinitamente maior.

Agora, quando não é amor, pode parar em qualquer lugar. Vai parar na esquina do vizinho, na casa em frente, no ombro do colega ao lado, em um final de semana qualquer ou até vir na sua direção, só que, diferentemente do amor, ele passa. Vai embora. É um disfarce. E dói, machuca, abre uma ferida imensa no peito, mas se fecha depois.

Se torna cicatriz.

O amor não passa, moreno. Não cicatriza. Ele fica ali grudadinho contigo até você saber que isso é a coisa mais importante do universo. Ele deixa uma abertura no peito só para você se lembrar do que está guardando. Vai doer mesmo depois de anos. Vai continuar machucando mesmo surgindo outros e outros amores. É horrível, sei disso. Não tenho motivos para convencer ninguém e nem a mim mesmo, mas quem é que precisa disso? Cada um sabe o que sente.

Um dia a gente aprende a suportar e seguir em frente, mas enquanto isso, ele fica aqui comigo, com você, com a gente e com quem quiser tê-lo como companhia. O amor, moreno, se recusa a ir embora. Quem vai embora são as pessoas.

O amor permanece.

Sempre.

25 maio 2017

Velha e louca

Finalmente aprendi que a gente precisa seguir em frente, moço. Passei a vestir minha roupa mais bonita e resolvi botar o pé na estrada com uma bagagem carregada de coisas boas. Não sei bem a hora que irei voltar e nem mesmo se irei voltar um dia. Já que a alegria faz morada, não quero deixá-la perdida por aí sem companhia. Não me importo que diga o quanto estou maluca, porque sei que tudo depende do ponto de vista. Você está aí, e eu aqui. Ando desejando absurdamente que essa vida toda seja boa e que essa tristeza melancólica não passe de uma fase ruim. Então, não vem tirar meu riso frouxo com algum conselho. Me deixa ser velha, louca e, apesar de tudo, feliz.
Você pode ler ao som de Mallu Magalhães - Velha e Louca
Talvez seguiremos por caminhos diferentes e lá na frente nos cruzaremos novamente. Talvez eu nunca mais saiba de você ou dos seus planos mirabolantes. Talvez você me esqueça em um piscar de olhos. Talvez haja muitas possibilidades para nós, mas, neste momento, meu único objetivo é viver. Se quiser vir comigo, tudo bem, mas mais uma vez lhe peço que não tire o meu sorriso com cara de desaprovação e palavras de represália. Não tira meu riso frouxo. Oras, sorria comigo!

A vida é uma imensidão de prazeres ocultos e escondidos nas entrelinhas, você precisa enxergar com cuidado, com calma e atenção. Você precisa ter o dom de ver em cada canto o lado bom.

É que essa sua indiferença não faz os dias serem ensolarados. É que essa sua falta de vontade em enxergar o mundo não o faz olhar mais adiante. Olha para mim, moreno. Vê esse sorriso? Coloca um no rosto também e sai por aí. O passado deve ficar lá atrás, o futuro lá na frente e o presente é agora. Veja as coisas boas. Mas, se não conseguir, pelo menos não me desarme. Pode falar, não me importa, o que eu tenho de torta, eu tenho de feliz. Mesmo que nem sempre em passos firmes, mas sigo meu caminho até onde convém.

Você pode ficar parado, mas eu vou em frente, exatamente como desse ser.

Pode falar que eu nem ligo. Eu nunca sei da hora. Eu nunca sei de nada. Cansei dos dias mais ou menos e de não fazer parte da multidão. Cansei das caras feias e das expressões de desagrado. Cansei das pessoas que não conseguem ver um tantinho de felicidade nas outras. Cansei da inveja e dos olhares tortos. Cansei e ver um mundo preto e branco enquanto há milhares de cores para pintarmos as paredes da vida. Cansei da negatividade. Cansei de ser metade. Cansei da infelicidade. Agora, não vem tirar meu batom vermelho com a sua ingratidão, é que eu tenho tido a alegria como dom e em cada canto eu vejo o lado bom.

Então, pode falar, não me importo, porque eu sou feliz.

12 maio 2017

Dança comigo?

Quando entrei por aquela porta vermelha, tive a sensação de que talvez valha a pena sair um pouco da zona de conforto, e do vídeo game também. Senti um calafrio gostoso na espinha, como se entrasse num lugar totalmente aleatório. Eu não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas. Fui sozinho. Precisava fazer alguma coisa, nem que fosse para tomar um porre e depois acabar com a cabeça girando e uma ressaca horrível no outro dia de manhã. Talvez eu esquecesse aquilo que tanto tento, de fato, esquecer. Mas então eu vi aqueles grandes olhos castanhos me encarando. Retribuí com um sorriso de canto e torci para não estar imaginando coisas.
Leia ouvindo Olly Murs - Dance With Me Tonight
Comecei a caminhar em sua direção calmamente, assim, poderia disfarçar e ir embora caso desse tudo errado. Pensei em começar uma boa conversa, talvez chamá-la para dançar ou perguntar se costumava ir ali com frequência. Que idiota! Isso não é necessariamente algo para se perguntar, há tantos assuntos no mundo.

- Hey, será que você gostaria de dançar?

E ela me puxou para o meio da pista.

Não tive nem mesmo chance de repensar minhas escolhas, simplesmente me deixei levar pelo ritmo da música e dos movimentos daquela garota. Eu parecia perdido, mas ela era incrível e tinha total confiança do que estava fazendo. Não conseguia tirar os olhos dela e percebi que isso era bastante recíproco. A puxei para perto, com receio de levar um tapa na cara, mas não, ela se entregou. Um beijo lento, com o choque de dois lábios quentes e algum desejo, muito mais ofegante do que estava esperando. Uma leve mordida no final me fez entender que não era brincadeira, o jogo dela era sério. Eu a encarei por alguns minutos até que vi um sorriso malicioso em sua boca. O devolvi com prazer.

- Talvez queira ir para outro lugar...

Sussurrei baixo, mas fui surpreendido. Segurei em sua mão e subi as escadas, passando por algumas pessoas já caídas nos degraus em estado deplorável. Mas ela nem mesmo me deixou chegar ao topo, me puxou com força e quando dei por mim já estávamos em uma sala. Seu corpo estava desejando o meu tanto quanto o meu desejava o dela. A empurrei na parede e segurei seus braços mais no alto, a beijando novamente, com mais intensidade, mais malícia, mais tesão. Dei um leve chupão em seu lábio inferior.

- Dança comigo essa noite, morena?

03 maio 2017

Um tempo para si

Talvez o que a gente precise mesmo é de uma brecha. Um lugarzinho calmo e longe de tudo e de todos. Um lugar simples onde podemos ficar por algumas horas e tentar ajeitar a vida. Não é uma tarefa muito simples encaixar todas as peças do quebra-cabeça, algumas são tão parecidas que simplesmente se tornam uma confusão, além disso, nem sempre temos tempo para tentar. Eu, por exemplo, sempre gostei de guardar meus problemas no bolso e ir cuidar de quem precisa de mim. Tenho uma gaveta cheia de conselhos emergenciais para todos os momentos, só que nenhum deles me serve. Tudo parece muito mais fácil quando somos meros observadores.
É que tem dias que fica extremamente pesado. É preciso sentar, respirar fundo e desafogar se necessário. Tem dias que a única coisa mais viável é colocar seu filme antigo preferido, pegar alguns doces no armário, se aconchegar no sofá e sentir cada coisinha que o personagem está vivendo. Tem dias que eu não quero absolutamente ninguém por perto. Quero ficar quieta no meu canto, sem precisar ter que ficar respondendo perguntas clichês como "você tem certeza de que está bem?". Tem dias que eu fico com a garganta fechada. Às vezes não é nem tristeza, não é por maldade ou desafeto.

É cansaço. Sentimental e psicológico.

Talvez o que a gente precise mesmo é de um tempo para si. Um momento mínimo que pode mudar o resto do dia. Um tempo para pegar na mão da solidão e dançar. Talvez uma valsa, talvez um clássico ou quem sabe até aquela música chiclete que insiste em não sair da cabeça. Um tempo para conversar com as paredes, mesmo sabendo que ela não vai te responder uma única vez. Um tempo para fazer uma lista breve sobre pontos não muito importantes. Um tempo para se olhar no espelho e ter a certeza de que está feliz assim, com as escolhas que tomou. Um tempo para fechar os olhos e se enxergar por dentro. Remendar as feridas antes que seja tarde.

É que tem dias que o essencial é invisível aos olhos. Está em um conto romantizado daquele seu autor preferido. Está em uma frase que encontrou durante o dia e não conseguiu mais esquecer. Está em uma mensagem implícita no seu celular. Está em todos os lugares. É que tem dias que a gente não consegue ver. E é justamente nesses dias que precisamos dar uma pausa. É indispensável e quem sabe até um tanto mórbido.

Um tempo para si.

Esta frase ecoou na minha cabeça enquanto tentava consertar as olheiras profundas, sem muito sucesso. Quanto mais tentava melhorar, mais roxas ficavam. Era isso, tinha que ser. Eu precisava de um tempo. O cabelo amarrado em um coque alto, os lábios sem o tão falado batom vermelho. Unhas por fazer e uma dor de cabeça insuportável. Um comprimido já não seria mais suficiente. Era minha hora de parar. Quem sabe daqui uns dias a cor vermelha volte a me cair bem.

12 abril 2017

Epitáfio

Acho que as pessoas se perderam no meio disso tudo, se perderam de si mesmas e não encontram uma forma de contornar o labirinto. Eu me perdi, confesso. O mundo simplesmente acabou e ninguém se deu conta disso, talvez estejam cegos. As pessoas que hoje circulam pelas ruas estão mortas, possuem apenas um restinho de sangue correndo pelas veias e um coração saltitante dentro do peito que se recusa a acreditar que o fim já chegou faz tempo. Eu só gostaria de mais um dia, para quem quer que seja. De poder falar aquilo que ficou preso no meu peito quando alguém tomou outro rumo que não fosse do meu lado. De poder abraçar por mais um segundo quem foi embora sem aviso prévio.
Você pode ler ao som de Titãs - Epitáfio.
Sempre que me imagino tendo um último dia bom, tenho a sensação de que não fiz nem mesmo a metade do que gostaria de ter feito, então me lembro de que talvez hoje pode ser meu último dia bom, e desabo. Não me arrependo das coisas que fiz, das palavras que pronunciei ou dos momentos que compartilhei, mas me arrependo de não ter feito diferente. Dizem que quando algo de ruim acontece, é para entendermos que estamos remando contra a maré, e que por mais que nosso barquinho seja forte, vai chegar uma hora que iremos precisar de um salva vidas por perto. Têm dias que eu só gostaria de fechar os olhos e fazer uma prece, dessas que realmente se tornam reais. Desejaria um pouco mais de tempo, um pouco mais de amor. Desejaria que a guerra acabasse e que, por fim, estivéssemos salvos. Salvos de nós mesmos. Salvos da humanidade.

Há situações em que involuntariamente faço exatamente o oposto da teoria. Machuco as pessoas que estão por perto, mesmo sem querer, sendo eu mesma. Sou agressiva, tenho garras afiadas que penetram o corpo alheio e esmagam devagarzinho o coração, só que não é por mal, não é de propósito. É por medo. Não entendem isso, é como se eu fosse uma bomba relógio e explodisse de vez em quando, afastando as pessoas. Daí tenho que sair por aí catando os restinhos que sobraram, recomeçando tudo novamente, torcendo para não ferir mais ninguém. Quando chega esse momento, me recordo do último dia bom.

Eu gostaria de ter amado mais, sem receio.

Me jogar de cabeça nos outros, rezando para que eles não sejam rasos.

Gostaria de ter sonhado mais.

Mas eu sou distraída, me perco um pouquinho em cada um que se faz morada.

Queria ter morrido de amor.

Cada um sabe de si, do que carrega nas lembranças e das feridas que possui. Não tenho o direito de dizer o contrário, e nem outra pessoa tem o direito de falar sobre mim. Queria ter me importado menos com os problemas pequenos, justamente como diz na música. É meu último dia bom, e eu queria só ter aceitado a vida, o que ela me traz e o que ela me tira. Queria ter visto mais coisas, e deslumbrado outras. Ter dado mais atenção a quem me proporcionou carinho. Ter sido mais presente para quem não me largou nem por um minuto.

Queria ter feito o que eu queria fazer.
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