Em
um dos meus momentos de lucidez, a encontrei parada observando a vida.
Sua forma de enxergar os pequenos detalhes e seu jeito torto de ajeitar uma
mecha do cabelo que insiste em cair nos olhos. Seu andar tranquilo de
quem nunca tem pressa com movimentos superficiais que mal são
percebidos. Seu sorriso pequeno para motivos tão grandes. A forma como enrola o cabelo com a ponta dos dedos. Tudo é extremamente familiar para mim. Sua altura batia com a minha, um tamanho mediano quase
imperceptível no meio de uma multidão. Seus cabelos longos e castanhos
tinham o mesmo corte da qual tenho pleno conhecimento, assim como aquele esmalte escuro, quase preto, que diz um pouco sobre sua personalidade forte.
Um tanto desajeitada, ela deixa cair um pequeno caderno repleto de anotações. Seu batom vermelho me conta o que há por trás das cores. Seu vestido azul marinho, rodado e batendo no meio das coxas, traduz seu jeito mais ingênuo. Seu corpo, sem muitas curvas e com pouco volume, coberto com uma camada fina de pele branca, quase leite, me mostra explicitamente suas pintas. Suas veias saltadas em tons arroxeados conseguem ser vistas à quilômetros de distância, como se fossem linhas a serem percorridas por aqueles que realmente têm coragem.
Em seu pulso há uma pequena pulseira coberta com pingentes aleatórios, dos quais não consigo enxergar de longe, mas acredito que talvez seja uma espécie de amuleto da sorte. Seu pescoço nu me leva a observar suas clavículas bem marcadas, um sinal de genética familiar, provavelmente. E em seus braços há alguns hematomas, mas para não pensar nada muito impróprio, imagino que seja por bater sem querer nos lugares.
Seu rosto pálido ainda é motivo para muitas brincadeiras sem graça, eu tinha certeza disso, porque escuto todos os dias. Seus lábios cheios não eram bem desenhados. Ela ri de si mesma quase que o tempo todo, e isso me chamou atenção. Quem em plena consciência gargalha ao levar um tropeção? Essa moça era uma completa estranha, mas admito que gosto dessa intensidade. É contagiante.
Ela não é lá muito simpática. Percebo isso por seus olhos semicerrados assim que vê alguém a observando, mas sei que ri por motivos bobos, porque, até alguns minutos atrás, estava absorta em pensamentos dos quais não tenho conhecimento.
Pelas suas expressões, facilmente seria confundida com uma adolescente boba, mas arrisco que tenha seus vinte anos, talvez mais. No entanto, se for para rever seus gostos e manias, eu diria que é uma criança com responsabilidade.
Seus olhos também me prendem, mutáveis ao ambiente, quase sempre em uma tonalidade diferente. Um tom de mel ao sol, de verde em dias mais claros e castanho na maioria do tempo. Tinha total liberdade de ser como preferisse e ela não tinha nenhum controle sobre isso. Como sei? Ora, ela se parece muito comigo.
Ela é o meu reflexo. É a base daquilo que os outros enxergam e reflete cada parágrafo que aqui descrevo. É para ela que recorro sempre quando necessário. Para dentro de mim mesma, sem aparências forjadas. Por vezes, a detesto, sinto vontade de me divorciar desse corpo, desses pensamentos, mas algo lá no fundo sempre me lembra de que essa moça faz parte de quem sou e de quem quero ser. Ela é a mistura de tudo aquilo que já fui e de cada momento que vivenciei.
Suas olheiras profundas me dizem exatamente isso.
Um tanto desajeitada, ela deixa cair um pequeno caderno repleto de anotações. Seu batom vermelho me conta o que há por trás das cores. Seu vestido azul marinho, rodado e batendo no meio das coxas, traduz seu jeito mais ingênuo. Seu corpo, sem muitas curvas e com pouco volume, coberto com uma camada fina de pele branca, quase leite, me mostra explicitamente suas pintas. Suas veias saltadas em tons arroxeados conseguem ser vistas à quilômetros de distância, como se fossem linhas a serem percorridas por aqueles que realmente têm coragem.
Em seu pulso há uma pequena pulseira coberta com pingentes aleatórios, dos quais não consigo enxergar de longe, mas acredito que talvez seja uma espécie de amuleto da sorte. Seu pescoço nu me leva a observar suas clavículas bem marcadas, um sinal de genética familiar, provavelmente. E em seus braços há alguns hematomas, mas para não pensar nada muito impróprio, imagino que seja por bater sem querer nos lugares.
Seu rosto pálido ainda é motivo para muitas brincadeiras sem graça, eu tinha certeza disso, porque escuto todos os dias. Seus lábios cheios não eram bem desenhados. Ela ri de si mesma quase que o tempo todo, e isso me chamou atenção. Quem em plena consciência gargalha ao levar um tropeção? Essa moça era uma completa estranha, mas admito que gosto dessa intensidade. É contagiante.
Ela não é lá muito simpática. Percebo isso por seus olhos semicerrados assim que vê alguém a observando, mas sei que ri por motivos bobos, porque, até alguns minutos atrás, estava absorta em pensamentos dos quais não tenho conhecimento.
Pelas suas expressões, facilmente seria confundida com uma adolescente boba, mas arrisco que tenha seus vinte anos, talvez mais. No entanto, se for para rever seus gostos e manias, eu diria que é uma criança com responsabilidade.
Seus olhos também me prendem, mutáveis ao ambiente, quase sempre em uma tonalidade diferente. Um tom de mel ao sol, de verde em dias mais claros e castanho na maioria do tempo. Tinha total liberdade de ser como preferisse e ela não tinha nenhum controle sobre isso. Como sei? Ora, ela se parece muito comigo.
Ela é o meu reflexo. É a base daquilo que os outros enxergam e reflete cada parágrafo que aqui descrevo. É para ela que recorro sempre quando necessário. Para dentro de mim mesma, sem aparências forjadas. Por vezes, a detesto, sinto vontade de me divorciar desse corpo, desses pensamentos, mas algo lá no fundo sempre me lembra de que essa moça faz parte de quem sou e de quem quero ser. Ela é a mistura de tudo aquilo que já fui e de cada momento que vivenciei.
Suas olheiras profundas me dizem exatamente isso.
oi, oi.
ResponderExcluirque coisa mais linda! <3 de vez em quando eu tbm paro pra refletir sobre mim e o que transmito as pessoas com as minhas expressões e com o meu corpo. acho que não é muito diferente da garota do texto/vc: sempre sorrio de tudo, pq amo sorrir, mesmo diante dos momentos mais tenso. o sorriso meio que tem o poder de diminuir o tamanho das tretas que estão envolta da gente. pelo menos comigo funciona dessa forma. e quer uma dica? jamais deixe de sorrir, mesmo que vc pareça uma bobona de 20 e poucos anos! ;)
bjs!
Não me venha com desculpas
Fico bem feliz que tenha se identificado comigo/com a personagem rs ♥ É tão bom gargalhar de coisas bobas e das trapalhadas que a gente insiste em praticar, né? Vou seguir seu conselho, porque não tem nada melhor do que parecer uma criança feliz rs.
ExcluirSabe, não sei se só eu que percebi ou vi isso, mas no final dá um sentido duplo a "ela", como se a pessoa estivesse falando de si mesma. Enfim, de ambos os pontos de vista, se dela mesma ou de outra pessoa a observando, fiquei pensando em quantas pessoas podem me observar dessa forma tão carinhosa, educada e gentil. Fiquei com aquela vontade de desbravar pensamentos a meu respeito para descobrir como realmente sou aos olhos dos outros. Daqueles que me enxergam mas possuem receio de me dizer...
ResponderExcluirBeijos,
Última postagem ♥ Blog Gaby Dahmer ♥ Fanpage
Mas era exatamente isso rs. É um texto sobre si mesmo, em que a personagem se coloca como observadora de sua própria existência ♥ Acho que se colocar como ser observador de si mesmo é uma prática muito boa, sabia? Deveria tentar de vez em quando. Não por egoísmo ou por achar que isso vai te fazer melhor do que alguém, mas porque nos faz enxergar o que estamos fazendo, como somos, no que nos transformamos.
ExcluirAin Kelly, eu gosto tanto desse seu cantinho, das suas palavras, das suas fotos. Nós estamos sempre comunicando algo a alguém e também a nós mesmos através dos olhos, dos movimentos, das palavras. É engraçado parar para pensar em como as pessoas nos vêem e em como isso nos afeta né? Um beijo :*
ResponderExcluirwww.fleurdelune.com.br
Awn, fico bem feliz com o carinho ♥ É bem complicado ficar imaginando o quanto nossas atitudes afetam o mundo ao redor e a nós mesmos. É muito bom pensar sobre o assunto de vez em quando. Nos faz acordar.
ExcluirVocê acabou de me descrever. Eu sou essa moça que é o seu reflexo. Eu sou a moça que é uma criança com responsabilidades. Eu sou a outra você.
ResponderExcluirVidas em Preto e Branco
Awn, isso é tão bonito ♥ Fico mega feliz por ter se identificado.
ExcluirQue texto mais lindo! A forma como você se descreve, com tantos detalhes, tanta reflexão, é algo raro e muito bonito de se ver.
ResponderExcluirhttp://lenabattisti.blogspot.com.br/
Awn, muito obrigada, moça ♥
ExcluirE cada momento vivenciado teve total influência para você se tornar quem é física e psicologicamente. É difícil essa transição pra fase adulta, não é? Se eu pudesse me descrever também diria o mesmo, que sou uma criança com responsabilidades. Uma criança que foi transportada involuntariamente pra um caminho que parecia tão viável há alguns anos... Enfim, crescemos. Acrescentamos algumas olheiras, algumas dores de cabeça e várias preocupações durante o percurso. Mas no fundo, no fundo, somos crianças perdidas aqui dentro.
ResponderExcluirCom carinho,
Conto Paulistano.
Exatamente, moça. Cada momento vivido é um aprendizado a mais que nos torna quem somos, e quem vamos ser daqui algum tempo. No fundo, sempre teremos a alma leve e os pensamentos ingênuos de uma criança. Acho que essa é a melhor parte de crescermos. Só assim conseguimos observar o quanto cada fase da nossa vida possui valor ♥
ExcluirCara que texto lindo, eu me identifiquei tanto, cada coisa que a gente sofre, que a gente vive, que se torna parte da gente e nos ajuda a moldar quem somos.
ResponderExcluirE o pior é que ainda hoje eu me sinto tão perdida nisso sabe? Um pouco criança , um pouco adulta, sei lá. rs
Beijos
www.jadeamorim.com.br
Acho que todos somos um tanto perdidos quando se trata desse assunto. Nunca estamos preparados para o avanço completo. Mas é o que nos molda, o que nos faz ser isso que somos ♥
ExcluirEi Kelly, que texto mais lindo. Fui surpreendida no final, já que eu acreditava ser narrado por um outro alguém e não pela a própria descrevida. Que amor! Essa transição louca nos permite reflexir entre os nossos altos e baixos, desejar se divorciar do nosso próprio corpo mas ao mesmo tempo amá-lo intensamente.. é tudo tão peculiar e individual! É muito bom nos identificarmos e sermos aquilo que queremos realmente transparecer, e mais lindo ainda quando as pessoas simplesmente enxergam o que somos e não o que eles supõe ou inventam, né?! Continue a escrever.♡
ResponderExcluirUm grande beijo,
Ge.
Fico bem feliz que tenha sido surpreendida positivamente ♥ É realmente um caso de amor e ódio, mas é muito bom quando a gente finalmente entende quem somos e o que estamos fazendo aqui. A partir do momento que o mundo ao redor passa a nos enxergar como somos, sem toda a máscara necessária, um peso imenso sai das nossas costas.
ExcluirEu adoro como seus textos têm um desenrolar interessante. Sempre começo achando que é uma coisa, mas ai no meio do texto você já vai dando alguns direcionamentos da ideia que você quer passar e eu sempre fico pensando: será que é...será que num é? E dai você vai lá e pan, sempre surpreende com o final. <3
ResponderExcluirEsse texto é lindo como os outros! Muitas vezes fico me olhando no espelho também e acabo me vendo como outra pessoa e fico refletindo um tempão...enfim.
❤
Relíquias da Lara
Awn, fico bem animada com isso ♥ As surpresas do final são um sinal positivo, né? Não tem graça se não tiver iuaehhua. Que bom que gostou e que se identificou. Às vezes é necessário parar e pensar sobre nossas ações. Nos ver como indivíduo.
ExcluirAmo texto e fico FELIZ por ter um final melhor só que eu imaginei
ResponderExcluirQue bom que gostou ♥
ExcluirQue coisa mais maravilhosa! É tão bom quando temos um texto como o seu pra refletir. Maravilhoso!!!!!
ResponderExcluirBemroxo.blogspot.com
Fico bem feliz que tenha refletido sobre ♥
ExcluirKelly, tu escreve tão bem. Estou apaixonado demais nesse texto, identifiquei um pouco em alguns detalhes, principalmente sobre o rosto pálido e os olhos. Esse texto passou uma mensagem incrível, então gostaria de dar meus parabéns a você. Acho esse blog tão maravilhoso, gosto sempre de vir aqui e ler os textos. E o que dizer sobre o projeto para os leitores se abrirem? Eu amei, talvez eu envie algo futuramente, quem sabe? Parabéns mais uma vez e sucesso!
ResponderExcluirCom amor,
Gabe ♡
Awn, fico bem feliz com isso ♥ É muito bom que se sinta bem por aqui e goste do que escrevo. Meu coração fica super quentinho rs. Espero que me envie um dia uma escrita sua, você também manda super bem e eu adoraria postar algo seu.
ExcluirQue belo texto, adorei a descrição da personagem! Você tem talento <3
ResponderExcluirsorria sempre :)
www.malusilva.com.br
Awn, muito obrigada, moça ♥
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