Um filme para nunca ser esquecido

Esses dias me rendi a assistir "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças". Depois de já ter batido o olho em diversas partes aleatórias do filme, finalmente consegui assistir por completo. Admito que foi uma verdadeira viagem. Me senti perdida, me iludi com as memórias de Joel, me apaixonei pelas loucuras de Clementine, senti minhas lembranças serem apagadas junto ao filme, assim como as recuperei assim que os créditos começaram a subir. Foi diferente de qualquer coisa que já havia sentido. Foi incrível e, ao mesmo tempo, difícil de lidar. Afinal, quem não tem o desejo de apagar uma parte da memória? Mesmo que seja por um motivo bobo, de vez em quando nos pegamos pensando sobre isso, só que não paramos para analisar o quanto ela é importante.

Para quem não conhece — ou nunca teve a oportunidade de assistir —, o filme conta a história de um casal que se conheceu por acaso em uma festa na praia. Os dois estão juntos há um bom tempo, mas o relacionamento não anda bem e as tentativas para que desse certo não foram suficientes para mantê-los juntos. Magoada com tudo que aconteceu, Clementine resolve se submeter a um tratamento experimental que apaga todas as lembranças que tem ao lado de Joel. Depois de saber da atitude dela, o rapaz entra em depressão, frustrado por ainda amar alguém que quer esquecê-lo. Querendo superar tudo isso, ele se submete ao mesmo tratamento, lutando contra o que ainda sente.

Contudo, em vez de esquecer a garota, Joel começa a se lembrar ainda mais dela, inclusive de momentos da qual ela nunca fez parte. Durante o último estágio do tratamento, quando está preso em sua própria memória, ele toma consciência do que realmente está fazendo, e mesmo que todas aquelas lembranças sejam indesejáveis, ele se dá conta de que são importantes demais para serem esquecidas.

É justamente o que acontece com a maioria das pessoas.

Não nos damos conta do quanto os momentos são indispensáveis em uma parte da nossa história. Ficamos torcendo para esquecê-los como se não fossem importantes. Queremos eliminar algo que na verdade já é parte do que somos.

O filme não só me fez cair na realidade como também me acolheu. Me fez enxergar o sentimento que carrego por cada pessoa que já passou pela minha vida. Me fez perceber que cada instante vivido foi essencial, mas independentemente de ter sido bom ou ruim, ele faz parte da minha linha cronológica, e vai continuar fazendo. Apagá-lo seria um erro. Seria como pegar esse texto e excluir os parágrafos do meio.

Faria algum sentido para você? Teria alguma coerência?

Acredito que com a nossa vida seja mais ou menos a mesma coisa. Não podemos simplesmente ignorar as memórias que achamos desnecessárias. Elas fazem parte da nossa história, e por mais que tenham ficado no passado, foi incrível poder vivenciá-las.