Um amor amargo

Têm dias que me pego pensando naqueles planos guardados dentro da minha cabeça. Geralmente eles tinham cabimento e se encaixavam perfeitamente com um domingo chuvoso e sem muito ânimo. Eles me faziam abrir um sorriso bobo de canto e fechar os olhos torcendo para que um dia se tornassem realidade. Eu tinha certeza de que se tornariam, por mais distante que pudesse parecer. Eu acreditava na gente, moreno. Acreditava nas conversas clichês, nas mensagens trocadas em meio ao dia cheio, na troca de olhares que me fazia te enxergar por inteiro. Talvez esse sentimento todo tenha sido um excesso pra você. Ou, talvez, não fosse o momento certo pra gente.

Sei que não tem cabimento te escrever tudo isso, mas, às vezes, bate aquele vazio no peito, quase imperceptível, que só quem realmente sente consegue entender. É que o café anda meio amargo e meu chá de morango perdeu o gosto. Eu não tenho mais paciência com filmes clichês. Os personagens não me fazem suspirar como de costume. Pra falar a verdade, eles até me deixam enjoada. Mas os livros de romance... Ah, eles me destroem completamente! Cavam um buraquinho no estômago e colocam um punhado de borboletas lá dentro, só acho que elas não gostam muito do lugar. Não se adaptam a minha falta de jeito.

É que eu fiquei um pouco amarga também. Talvez me falte açúcar.

Seu cheiro ficou impregnado naquele lençol que você tanto detestava. Hoje, ele é um dos meus preferidos, mesmo que não combine com o resto da decoração. É a única coisa que sobrou de você comigo, ainda que o seu coração já esteja em outro continente. O meu ainda pulsa constantemente quando ouve seu nome nas entrelinhas. Tenho a sensação de que, às vezes, ele tem vontade de sair por aí te procurando no semblante cansado das outras pessoas. Mas não o deixo partir.

Também preciso dele.

É que você foi embora, mas não levou os sentimentos contigo. Eles ficaram aqui me fazendo companhia, lembrando de coisas que, na verdade, só existem na memória. Eles me afogam um pouco mais a cada dia, como se eu tivesse entrado em um mar emocional repleto de ondas violentas. É que você foi embora, moreno. Não me levou contigo. Hoje sinto saudade de um alguém que conheci por acaso. Um alguém que me fazia rir por qualquer bobeira. Que me olhava como quem gostaria de desvendar um segredo muito complicado. Talvez tenha sido isso. Talvez eu tenha sido complexa demais para entender. Talvez a culpa tenha sido mesmo minha.

Me perdoa por isso. Eu sou um caos.