Aos vinte

Há momentos em que eu simplesmente gostaria que o Peter Pan viesse me buscar e me levar lá para a Terra do Nunca. Ter sempre a mesma idade, o mesmo tamanho, a mesma aparência. É que essa sensação de nostalgia acaba comigo. E eu não sei como contornar isso. Não sei como abandonar as lembranças de quando era pequena e batia pé porque queria o maior urso de pelúcia da loja. Ou de quando levantava cedo e ia direto para frente da televisão ver meus desenhos animados preferidos, cantando desesperadamente junto com a música de abertura. Fala sério... Ainda conheço cada uma delas. Só que é estranho estar fazendo vinte e não ter nada de muito bom para lembrar dos últimos três ou quatro anos.

A única certeza que tenho é de que cresci. Meu coração tem centenas de anos, se duvidar. Se tornou meio brega, e eu também, mas não me arrependo disso. Não me arrependo das presepadas da vida, dos momentos de raiva, dos momentos de tristeza e, muito menos, daqueles que ficaram guardados comigo, mesmo que somente na memória. Algumas pessoas ainda estão por aqui, ainda vão me encontrar daqui algumas horas e eu vou poder dar um abraço apertado em cada uma delas, agradecendo de coração por terem compartilhado mais um ano comigo. Por não terem desistido da pessoa que vos escreve. Mas algumas pessoas já estão bem longe.

Eu os guardo comigo.

Mas não posso garantir que minha essência ainda seja a mesma, porque sei que não é. Eu mudei. Me tornei outra pessoa nesses últimos anos. Nesses últimos meses. Qualquer um dos que já partiram não me reconheceriam. Nem eu mesma, para ser sincera. Só que isso é uma coisa incrível. Perdi o medo e as armaduras. Não sou mais aquela menininha com uma vergonha do tamanho do mundo. Ela ficou lá atrás também, mas não a quero de volta. Juro!

Ainda assim, é a coisa mais esquisita estar completando duas décadas. Nem parece que já passou tanto tempo. Gostaria que o tempo congelasse e retrocedesse alguns anos, nem que fosse para eu dar alguns conselhos para a minha eu menorzinha. Mas sabe de uma coisa? Eu tenho mais é que estar feliz! Sou a mesma pessoa boba, de riso frouxo e um amor enorme por quem me quer bem. Espero que o peso do mundo — e das pessoas — não tirem isso de mim. Espero que a vida seja doce e que, com o passar dos vinte e tantos anos, eu só tenha ainda mais certeza de estar fazendo a coisa certa.